segunda-feira, 3 de setembro de 2012

POESIAS...


Ary dos Santos – “Infância”

30.03.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Não minha mãe. Não era ali que estava. 

Talvez noutra gaveta. Noutro quarto. 

Talvez dentro de mim que me apertava 

contra as paredes do teu sexo-parto.
A porta que entretanto atravessava 

talhada no teu ventre de alabastro

abria-se fechava dilatava.

Agora sei: dali nunca mais parto.
Não minha mãe. Também não era a sala

nem nenhum dos retratos de família 

nem a brisa que a vida já não tem.
Talvez a tua voz que ainda me fala… 

… o meu berço enfeitado a buganvília… 

Tenho tantas saudades, minha mãe!

Pedro Mexia – “Sala de espera”

09.07.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Cinquentonas adiposas
homens de bigode problemático
duas angustiadas estéreis
outras duas parideiras
velhos parados na sua velhice
funcionários tão públicos
uma adolescente esburacada
a mãe catastrófica
o jovem lamentável casal
uma miúda que só olha
um avô despedaçado,
todos na mesma fila que eu
para os comprimidos.

Juan Garcia de Guilhade – “Ai, Dona Feia”

25.08.2012 | Produção e voz: Luís Gaspar
Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos louvei no meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvarei sempre;
e vedes como vos quero louvar:
dona feia, velha e demente!
Dona feia, se Deus me perdoar,
pois tendes tão grande desejo
que vos eu louve, por este motivo
vos quero já louvar sempre;
e vedes qual será o louvar:
dona feia, velha e demente!
Dona feia, nunca vos eu louvei
no meu trovar, inda que muito trovei;
mas agora já un bom cantar farei,
em que vos louvarei sempre;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e demente!

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