sábado, 5 de outubro de 2013

Portugal pequenino....

Portugal pequenino
Minha sereia comprometida
Na dualidade das serras e do oceano
No linguarejar cantado de uns
Arrastado de outros
De erres pronunciados 
De vogais finais inaudíveis
De redes de pesca
Mescladas de bois potentes
Na lavoura de outros dias
Intervalada por serões
De Xailes negros
E mulheres feiticeiras
A carregarem a noite
Nas traves do Fado

Portugal pequenino
Das naus corajosas a descobrirem
Horizontes
Dos sonhos de grandeza em terras
De Além-Mar
Das vozes viúvas, órfãs de fé
Em cais de angústia
Dos filhos, dos maridos
Que um regime exilou
Das procissões imensas a alumiarem
As ruas com velas de promessas
Das conversas à margem da lei
Nos cantos nem sempre livres dos cafés
Dos livros passados em segredo
De mão em mão
Dos encontros clandestinos
A tecerem manobras de construção
De uma liberdade nova
Para um povo amordaçado

E o destino cumpriu-se
E sonhámos ser asas
Pão, educação para todos
Dignidade e paz
Mas sossegámos demais
Confiámos, inocentes
Que o rumo permaneceria
E não vimos os sinais
Deixámos que os filhos
E os netos dos algozes do passado
Se infiltrassem nas malhas da democracia
Que se emparceirassem com os seus iguais
Para minar as nossas vidas
Nos meandros da economia
Nas parcelas do poder
Roubadas sob a nossa desatenção
A nossa apatia
A nossa vontade de acreditar
Que Abril fluiria sempre

E agora, meu Portugal pequenino
Voltámos a chorar a ausência
Dos nossos descendentes que emigram
A dor de não sabermos como pagar
As nossas contas
A tristeza de vermos a nossa soberania
Refém de sentenças estrangeiras
A raiva de nos sentirmos assolados
Por uma corrupção a que a justiça
Não põe cobro

Portugal, meu Portugal pequenino
É urgente que as tuas gentes inundem as Praças
Que os nossos gritos sejam farpas
Que o nosso hino traje de novo
A transparência desejada
O fim dos conluios que nos arruínam
A solidez da veracidade nos caminhos

Ana Wiesenberger

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