segunda-feira, 22 de outubro de 2012



Chamar Pássaros
Chamar pássaros com o alpiste 
de amá-los.  Eles pousam nos parapeitos.  Nem 
sombra de medo nessa aproximação.
Quase me sinto gêmea do que são parados 
à beira da janela ou saltando no telhado 
recém-chegados.A cordialidade dos pássaros é sutil:
afloram o coração de quem os ama.

                              (Este poema inspirou "Cumplicidade" de Soares Feitosa.)
 
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 Paul Delaroche, França, 1797-1856, Hemiciclo da Escola de Belas-Artes 

       
      Destino 


Decerto não serás feliz.
Algum oráculo, estranho
e de longo tempo, anuncia.
Imponderável é o teu destino.
Mesmo que o amor inunde o pátio
das tardes e as tardes inundem as margens
dos dias e os dias invadam o delta
das noites, decerto não serás feliz.
Os elos, mesmo os de sangue, ruirão.
O tempo, com sua agulha silente, tecerá 
a fábula febril da dor, os atrozes
elementos de tua insaciável agonia.
E nada restará a ti, ao animal
que és e foste nas horas extremas
dessa ancestral melancolia.
  

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