domingo, 10 de março de 2013

A mulher vem em ondas....



Morena na Praia de Copacabana. Foto de Marcelo Migliaccio


IMITAÇÃO DAS ÁGUAS
(João Cabral de Melo Neto)


De flanco sobre o lençol,
paisagem já tão marinha,
a uma onda deitada,
na praia, te parecias.


Uma onda que parava
ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento
seu rumor de folhas líquidas.


Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.


Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.


Uma onda que parava
ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse
no alto de sua crista


e se fizesse montanha
(por horizontal e fixa),
mas que ao se fazer montanha
continuasse água ainda.


Uma onda que guardasse
na paria cama, finita,
a natureza sem fim
do mar de que participa,


e em sua imobilidade,
que precária se adivinha,
o dom de se derramar
que as águas faz femininas


mais o clima de águas fundas,
a intimidade sombria
e certo abraçar completo
que dos líquidos copias.

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