segunda-feira, 19 de novembro de 2012


AS TUAS PERNAS DE SEDA

* Jorge Fernando Ferreira Monteiro *


Curvilíneas as tuas pernas de seda
enrolam-se nas minhas
a prenderem-me nas tuas descobertas.

Abrem-se as cortinas
onde a aragem se fica pelos vidros
a ondular como nós.
Estamos sós,
nada nos impede de crescermos
e prolongarmos indefinidamente este momento.

Quando a espuma vier que seja tarde,
ao romper da manhã...

Repara como nos reinventamos
apesar de todos os percalços
e nos amamos ainda.

Não finda esta corrida!

Conduz-me tu agora,
quero que sejas o rugido no impeto
inadiável
que te excita e nos leva ao significado da vida.

As tuas pernas de seda
enrolam-se nas minhas e prendem-me
nas tuas descobertas,
e eu
deixo-me levar
morrendo devagar dentro de ti!

***

[Imagem - Google]
OS MEUS VERSOS

* Florbela Espanca *


Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...


in "A Mensageira das Violetas"

***

[Óleo s/tela - Vicente Romero]
AS TUAS LÁGRIMAS

* Joaquim Pessoa *

As tuas lágrimas respiram e florescem, o lugar onde te sentas é o rio que corre em sobressalto por dentro de uma árvore, seiva renovada que transporta palavras até às folhas felizes de~um amor demorado 
e ainda puro. E essa árvore fala através das tuas palavras, demora-se em conversas com as abelhas, com os gaios, com o vento.

As tuas lágrimas iluminam as páginas alucinadas dos livros de poesia, e as mesas claras tão cheias de frutos que se assemelham a fogueiras ruivas, alimento privilegiado de um imenso e intenso dragão que me aquece o sangue.

As tuas lágrimas transbordam os grandes lagos dos meus olhos e eu choro contigo os grandes peixes da ternura, esses mesmos peixes que são os arquitetos perturbados de uma relação sem tempo mas alimentada por primaveras que de tão altas são inquestionáveis.

As tuas lágrimas fertilizam as searas celestes, arrefecem o movimento dos vulcões, absorvem toda a beleza do arco-íris, embebedam-se com a doçura das estrelas. E são oferendas à mãe terra, o reconhecimento final do princípio do nosso pequeno mundo.

As tuas lágrimas são minhas amigas. São as minhas lágrimas. A forma de chorar-te cheio de alegria, ferido por esta felicidade de amar-te muito, de amar-te sempre, de apascentar nas horas mais desoladas, o meu rebanho florido de azáleas brancas e vermelhas.
in 'Ano Comum'Foto: AS TUAS LÁGRIMAS

* Joaquim Pessoa *

As tuas lágrimas respiram e florescem, o lugar onde te sentas é o rio que corre em sobressalto por dentro de uma árvore, seiva renovada que transporta palavras até às folhas felizes de~um amor demorado e ainda puro. E essa árvore fala através das tuas palavras, demora-se em conversas com as abelhas, com os gaios, com o vento. 

As tuas lágrimas iluminam as páginas alucinadas dos livros de poesia, e as mesas claras tão cheias de frutos que se assemelham a fogueiras ruivas, alimento privilegiado de um imenso e intenso dragão que me aquece o sangue. 

As tuas lágrimas transbordam os grandes lagos dos meus olhos e eu choro contigo os grandes peixes da ternura, esses mesmos peixes que são os arquitetos perturbados de uma relação sem tempo mas alimentada por primaveras que de tão altas são inquestionáveis. 

As tuas lágrimas fertilizam as searas celestes, arrefecem o movimento dos vulcões, absorvem toda a beleza do arco-íris, embebedam-se com a doçura das estrelas. E são oferendas à mãe terra, o reconhecimento final do princípio do nosso pequeno mundo. 

As tuas lágrimas são minhas amigas. São as minhas lágrimas. A forma de chorar-te cheio de alegria, ferido por esta felicidade de amar-te muito, de amar-te sempre, de apascentar nas horas mais desoladas, o meu rebanho florido de azáleas brancas e vermelhas. 

 in 'Ano Comum'

Nenhum comentário:

Postar um comentário