A magistral ilustração de Stuart de Carvalhais (1887-1961), com a qual ilustro a presente crónica, tem por título “Cumprimentos do Ano” e foi publicada na capa da revista “Ilustração Portuguesa”, nº 410, de 29 de Dezembro de 1913. Ela sugere a despedida do “Ano Velho”, aí representado por um ancião de ar respeitável, sentado, vencido decerto pelo desgaste e pelas mazelas da vida. Junto a ele, duas crianças, das quais a mais velhinha lhe entrega um ramo de flores, decerto como reconhecimento do legado positivo que o Ano Velho lhes doou.
Não tenho motivo algum que me leve a crer que esta alegoria de Stuart não fosse apropriada em 1913. Todavia, considero que, actualmente, ela carece de sentido. Por isso me despeço de 2011 com mágoa, azedume e revolta, porque os portugueses nunca perderam tanta qualidade de vida e direitos democráticos como no ano de 2011. Pelo menos até agora. E porquê? Por culpa dos políticos que temos, dos políticos que tivemos e dos políticos que não tivemos, ainda que uma maioria significativa de nós, os gostasse de ter tido.
Conhecedor da obra do poeta popular António Aleixo (1899-1949), identifico-me bastante com o seu pensamento, a começar pelo modo como o poeta se enquadra na Sociedade:
“Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade que,
baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.“
Concordo também com o juízo que faz do Poder:
“Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.”
Na óptica do poeta, é um juízo que não é nada positivo:
“Há tantos burros mandando
em homens de inteligência,
que às vezes fico pensando,
se a burrice não será uma ciência...”
Por isso o poeta considera ter o direito de protestar:
“Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!”
E vai ao ponto de advertir o Poder:
“Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
q'rer um mundo novo a sério!”
Proclama igualmente que a situação pode (e digo eu, deve) mudar:
“Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.”
Perder a vida será na sua opinião, o que menos importa:
“Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão? “
O carapuço na barrística popular estremocense (2ª edição)
Fig. 1 - Pastor a fazer as migas, sentado. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores.
Fig. 2 - Pastor a fazer as migas, deitado. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores.
Fig. 3 - Matança do porco. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores.
Esta é a 2ª edição do post O CARAPUÇO NA BARRÍSTICA POPULAR ESTREMOCENSE, editado em 6 de Junho de 2011, agora revisto, reformulado e ampliado, com a introdução de mais uma oitava e uma quadra do cancioneiro popular alentejano, ligadas à temática do carapuço, bem como mais uma referência bibliográfica.
Fig. 1 - Pastor a fazer as migas, sentado. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores.
Fig. 2 - Pastor a fazer as migas, deitado. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores.
Fig. 3 - Matança do porco. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores.
Esta é a 2ª edição do post O CARAPUÇO NA BARRÍSTICA POPULAR ESTREMOCENSE, editado em 6 de Junho de 2011, agora revisto, reformulado e ampliado, com a introdução de mais uma oitava e uma quadra do cancioneiro popular alentejano, ligadas à temática do carapuço, bem como mais uma referência bibliográfica.
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