quinta-feira, 19 de julho de 2012


VÔO ASCENDENTE



Súbito pássaro
abra suas asas
brancas como a neve
par a par
a brilhar
no azul cobalto

Escorre como uma lágrima
no rosto do céu
teu corpo estendido
asa com asa
para onde quer me levar?

Vôo ao infinito
meu amor a descortinar
em véus de plácida luz
acordes envoltos em sonho

Súbito pássaro
Teu voar distante e perto
habitante de excessivas horas
do existir em forma e eco
sereno em sua constância
a subir... subir... subir...


Ianê Mello e Beto Palaio

*

A NOITE É PASSADA



O café entornou na pia
nada é permanente
farelos de pão sobre a toalha
murmúrios de vozes se fazem ouvir
enquanto a  noite cai mansamente

O tic-tac do relógio
marcas de mim
ao correr das horas
sombras projetadas nas paredes
memórias esquecidas

No mistério dessa noite
tendo o sono como companhia
de olhos fechados em fugas
sonatas de notas difusas

O passado e o futuro declinam
ao momento presente
o pão que se desfaz
o café que se esvai

Nas teias da meia-noite
a aranha tece eterno bordado
seu ir e vir enrodilhando
destinos que se entrelaçam
e desaparecem na noite passada.



Ianê Mello e Beto Palaio

O canto



Canta passarinho sobre o galho cortado
Seu canto é lamento
Sua casa
Destruída
Só lhe resta cantar
sobre o galho cortado

Canta, pois, passarinho
Minha alma é sem lar...

RODRIGO DELLA SANTINA

Diálogo Poético: Ianê Mello e Joaquim Vale Cruz





ARTIMANHAS DO AMOR 


Suor e lágrimas
mescla de fluídos
cheiros
sentires
...
cheios de vazios
corpo e emoção

o amor brincou comigo
fui criança
...
mais uma vez

a correr pelos campos
sorriso no rosto
cabelos ao vento

crédula de tudo
zonza de vertigem
verdades secretas

a vida em cores
vibrante arco-íris de luz
o relógio
do tempo
parou

como fogueira
em brasa
ardeu
...
intensamente

agora
...
só cinzas


Ianê Mello


As artimanhas do amor
muitas vezes causam dor
e também lágrimas e suor
Mesclam, sentires, cheiros e fluidos
Cheios de vazios, corpo e emoção sentidos
Que tanto nos queimam, tal é o seu ardor…

E se o amor brincou comigo, ainda criança
também ele em mim deixou a esperança
quando corria pelos campos, sorrindo, cabelo ao vento
Que a vida tinha cores vibrantes e muita luz
e um arco-iris , tão belo que nos seduz
e que o amor, se é dor, é também contentamento

E ao acreditar em tudo, zonzo de vertigem
e nas verdades secretas da sua origem
O relógio do tempo, em mim jamais parou
E como fogueira, em brasa ardeu sem fim
e intensamente ainda está dentro de mim
E de suas artimanhas, nem só a cinza ficou…

JVC 
Sou aquela que voa nas asas da borboleta
Mas que também arde nas lavas de um vulcão
Sou a suave brisa que acaricia seu rosto
Mas também sou o vendaval que te arrasta
Sou água que flui em rio caudaloso
Sou fogo que arde de paixão
Sou terra em que piso com passo forte
Sou ar que em delírios se desprende do chão

Sou fênix e das cinzas renasço
Reconstruo a mim mesma, passo a passo
Sou uma e em várias me reparto
Em meus labirintos me perco para me reencontrar
Junto meus pedaços e me reivento
Me refaço de minha própria essência
com gratidão e sem lamento
e busco a cada dia ser mais inteira.

Ianê Mello

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